sexta-feira, 7 de maio de 2010

Você tem fome de quê?

Com todo o "estardalhaço" causado pela matéria da SECOM/UnB em cima da dissertação da Flávia Oliveira, um questionamento ficou batendo aqui na "caixola". Afinal de contas, pra que serve uma universidade? A coordenadora do curso de Arquivologia da UnB, Cynthia Roncaglio, frisou que os conteúdos da mesma não devem estar à mercê dos ditames do mercado. Será que o intuito é formar pesquisadores ou "concurseiros de plantão"? Ou pior, um cara que fica batendo carimbo dentro de uma repartição pública?

O trabalho dos blogs de diplomática versa pela imagem de um laboratório que funciona a céu aberto. De uma simples ideia surgem trabalhos excelentes. E que, inclusive, podem ser aprofundados futuramente num projeto de mestrado. É um laboratório onde a gente brinca, pega os ingredientes, mistura, põe nos tubos de ensaio, e daí pode surgir uma porção promissora. Somos como pequenos cientistas. E o que realmente importa aqui é aguçar a nossa curiosidade.

A finalidade de uma universidade pública deve ser orientada pelo incentivo aos mecanismos de ensino, pesquisa e extensão. Isso pode acontecer num país onde o contracheque de quem está na ponta do processo apresenta estes valores? Tá certo, você vai dizer "o diploma que é dado na solenidade de colação de grau vai ser utilizado como bem entender por quem o recebe". E ainda pode ter a mesma opinião desse tipo aqui. Ninguém faz ideia de quem vem lá.

A impressão que fica é a de que cada canudo com o diploma de graduação representa uma garrafa jogada ao mar, com uma mensagem dentro. E que ninguém sabe em que areia ela vai parar. Mas qual conteúdo o professor, a universidade e o aprendiz devem inserir nessa mensagem? A gente se sente dentro de um restaurante diversificado, onde o aprendiz pega o seu prato e escolhe o que vai comer. A moça do caixa me pergunta: "e ai arquivista, você tem fome de quê? Pegue o seu prato e sirva-se à vontade". Será que você sabe o que quer colocar no prato?

10 comentários:

  1. O texto suscita uma questão ético-democrática: sou dono dos meus recursos e faço aquilo que quero deles, mas seria moralmente ético "desperdiçá-los" apenas com os meus interesses?

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  2. Fernando, há ainda outra questão ética: parte de seus recursos, como arquivista formado por uma IES pública, foram-lhe disponibilizados pelo dinheiro público.

    Rodrigo, EXCELENTE post. Parabéns!

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  3. FRASE DO MESTRE MANU BRAW DO RACIONAIS. "DEUS É UMA NOTA DE CEM"...ESPARRO VÉI. ISSO VALE P SAMPA.

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  4. Somos o que quisermos ser, se seremos escravos do mercado, estudaremos para concursos, se quisermos melhorar o mundo seremos cientistas que erram mil vezes para acertar uma e reconhecer que para se alcançar o conhecimento, primeiro temos que saber como chegar às formas de não construir o conhecimento!
    O mercado volumiza a idéia do "eu" financeiro, afasta o ápice que se espera de um graduado de Universidade que é o questionamento ao ambiente em que está inserido.
    O "graduado de concursos" não é o que a universidade cria, é o que o ordenamento financeiro prega.A universidade não pode se pautar por um mercado que não cria conhecimento, mas sim pela vocação da universidade que é construir e reconstruir novas bases cognitivas, novas nuances do pensar, refletir os caminhos que a mente humana desafia. A vocação do pesquisador não está preso ao que o mercado prega, mas a desafiar essa realidade e possibilitar um novo porvir na ciência em que se graduou.

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  5. Caro "Anônimo II", infelizmente hoje os cientistas da UnB estão prestes a se tornarem escravos. Falo do conceito moderno de escravidão mesmo. Aquele no qual o trabalhador rural, depois de aliciado pela fazenda, recebe todo o salário em vales, que somente são aceitos no armazém da propriedade. Como não há controle entre o valor recebido em vales e o preço do armazém, esse trabalhador, quanto mais trabalha mais deve. Algo similar ao que está prestes a acontecer com os cientistas da UnB (e que já aconteceu nessa semana com os funcionários da UnB): dever 1 ano de salário para cada 4 anos que trabalhou aqui (produzindo conhecimentos para, como diz vc, "mudar o mundo"). Como ninguém aqui tem essa grana toda, significa que ela será subtraída em pequenas parcelas (de no máximo 10% do salário) até sua quitação, ou seja, até após a morte dos docentes. Ontem uma colega minha me contou o caso de uma viúva de professor da UFSC que ficou 10 anos pagando a dívida contraída pelo finado, por ter trabalhado como cientista em uma universidade federal.

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  6. Kelly, você escreve: " Devemos criar a melhor solução aos nossos clientes e provar a eles o quanto o nosso conhecimento é importante". Porém, é possível sustentar um "conhecimento" baseado em teorias surgidas nos séculos XVIII e XIX? Assim, temos de usar muito mais criatividade do que ciência. Precisamos sim, de professores mais bem remunerados, estimulados e alunos que reconheçam na Universidade um lugar de cultura, ávidos em transformar o conhecimento adquirido, não acomodados, não conformados.

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  7. Desculpe Fernando, Acredito que não fui clara no meu comentário. Concordo com vc, precisamos de professores mais bem remunerados. A situação dos nossos professores é inaceitável e essa greve foi mais do que justa (é uma pena ter terminado sem uma solução). Mas acredito que nós devemos levar as aulas os atuais questionamentos. Afinal, construir conhecimento é um dos nossos deveres com a sociedade, alem de ser o objetivo das universidades. Não queria mostrar-me acomodada não, apenas acredito que nós também somos responsáveis pelo futuro do curso. Precisamos nos dedicar mais a pesquisas, por exemplo, afinal a produção científica ainda é baixa na nossa área.

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  8. Kelly, minha resposta não foi uma crítica às suas palavras, mas um complemento, e concordo com você sobre o papel que cabe ao aluno na melhoria do curso, a partir da discussão e da pariticipação efetiva. Abraço.

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  9. É legal ver as pessoas discutindo e deixando os "egos" de lado. A Arquivologia precisa de mais espaços como este aqui. Além de pessoas corajosas para dizer o que pensam, e também escutar contestações. Legal essa discussão aqui. Abraços

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